Dos 7 aos 13

Depois de responder "Boa noite" ao Cid Moreira, minha vó ía dormir

Me levava junto.. o perfume do lençol.. a oração.. seu abraço....

A paz que me fazia sonhar... por 7 anos, até um dia ter que acordar.

Na roda de meninas eu era alienígena...

Brincando de pedrinhas até parecia normal..

Mas no jogo de falar a verdade me dei muito mal..

O que eu sentia e queria não era o que elas sonhavam pra vida.

"Profissão casada" Pra elas.. uma coisa só. 

Na minha garganta feito nó... desatei a falar sem dó..

Não que casar fosse ruim... mas é que...

Eu queria que elas mirassem as estrelas primeiro... e também... e sempre...

Todo o resto viria... 

Mas não era a hora pra isso... Não era o momento... Não era a idade..

O vestido era doce, romântico e ainda feito pela minha mãe...

Combinava comigo, uma parte de mim... Mas era apenas uma parte. Eu queria mais.

Queria vestir calça jeans, camiseta e tênis..

Me remetia a liberdade... expressão... atitude...

Demorou. Nossa, como demorou.

Certo dia ganhei de uma vizinha.. Olhava pra eles, olhava.. olhava..

Na casa da Lena (a vizinha) numa visita boba, foi a desculpa pra estrear

A sensação foi inesquecível, ninguém via... mas eu sentia

Uma chuva forte pegou a gente de surpresa

Foi como fechar com chave de ouro..

Corri encharcada, a calça jeans pesada e a alma lavada.

"Só se vê vem com o coração, o essencial é invisível aos olhos" (Saint-Exupéry)